22/08/2024
Por Marlice Pinto Vilela
A professora universitária Magali Geara, 61, e o economista Reginaldo Muniz, 75, conversaram sobre assuntos que discordam em uma chamada de vídeo na última semana. Ambos participam do projeto “O Brasil Fala”, que busca conectar 10 mil brasileiros para dialogarem sobre assuntos que podem causar divergências. Os dois consideraram a experiência positiva e dizem estar prontos para uma nova rodada.
A iniciativa é fruto de uma parceria entre o Instituto Sivis, um think thank dedicado ao fortalecimento da democracia, e um grupo de pesquisadores da Universidade de Stanford. As inscrições para participar do projeto estão abertas até o dia 30 de setembro e podem ser feitas por meio do link de inscrição ou do formulário abaixo.
Magali e Reginaldo debateram sobre aborto e taxação dos mais ricos
“A gente está precisando reaprender a conviver com quem pensa diferente”, afirma a professora universitária. “Achei essa proposta muito bacana. Uma iniciativa muito necessária hoje e espero que ela tenha muitos frutos na vida das pessoas. Não só na minha, na do Reginaldo ou na de qualquer outro participante, mas realmente impacte a sociedade”, completa.
Durante a conversa de quase uma hora, Magali e Reginaldo abordaram temas com alto potencial de desavença, considerando a polarização política atual do país.
Antes do encontro on-line, eles receberam o perfil um do outro para descobrirem os assuntos em que havia discordância.
Não houve mediação no encontro, permitindo um fluxo natural, e os participantes podiam finalizar a chamada a qualquer momento. “Olha que curioso, a gente recebe uma mensagem no whatsapp com as instruções com a frase ‘não toleramos discurso de ódio’ em negrito. A que ponto chegamos”, comentou Magali durante a conversa com Reginaldo.
Durante os 50 minutos que estiveram juntos, os participantes discutiram temas como a descriminalização do aborto e a taxação diferenciada dos mais ricos para financiar programas voltados aos mais pobres.
A professora universitária apontou, durante a conversa, que os efeitos psicológicos sobre a mulher deveriam ser mais debatidos na discussão sobre o aborto. Reginaldo, por outro lado, defendeu a prática como uma política pública. Segundo ele, a ampliação do direito poderia trazer segurança para a saúde da mulher.
“A ideia aqui não é convencer, né? É conversar”, afirmou Reginaldo durante o diálogo. De fato, o objetivo do Brasil Fala não é que os participantes cheguem a um consenso, mas possibilitar um ambiente favorável à exposição de ideias e divergências com tranquilidade.
Mais de 1400 pessoas já se inscreveram
De acordo com os organizadores, até o momento, mais de 1.400 pessoas se inscreveram no projeto, representando diversos espectros políticos e 24 estados do Brasil. Os inscritos têm idades variadas, desde jovens de 18 anos até pessoas de 94 anos.
Quando Reginaldo se deparou com a proposta do projeto ficou curioso, mas também desconfiado. “Depois, eu constatei a seriedade da proposta que é dar a possibilidade de diálogo entre as pessoas que pensam diferente. Como eu tenho como princípio de vida apoiar diferenças e tentar dialogar com visões distintas, eu fiquei muito interessado”, conta o economista.
“Cada vez que lançamos um projeto num novo país é difícil saber o que esperar. As pessoas se interessarão pelo programa? A cultura está pronta para o diálogo? Mas temos grandes parceiros locais e uma forte rede de mídia trabalhando para criar um espaço construtivo de diálogo no Brasil”, afirmou Sara Cooper, líder técnica do My Country Talks.
O Brasil Fala é baseado no projeto My Country Talks, que já conectou pessoas com opiniões opostas em diversas partes do mundo.
“É um instrumento interessante que viabiliza o diálogo e, de alguma maneira, tende a amenizar a polarização e permitir que as pessoas vejam além das bolhas”, diz Reginaldo. O economista ainda afirma ter sido um propagador direto da iniciativa: “estou incentivando outras pessoas a participarem, converso com pessoas próximas sobre o projeto para que elas também possam ter essa possibilidade”, declara.
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