Educação cidadã pode potencializar soft skills e engajamento comunitário, além de estimular literacia midiática
03/08/2024
Por Sara Clem | Analista de pesquisa do Instituto Sivis
A educação é foco de políticas públicas há anos. O tema é pauta importante uma vez que é comprovada que o investimento nessa área leva a melhores indicadores de qualidade de vida. Quando olhamos para a situação do Brasil, os dados mostram que temos muito o que melhorar, pois ainda lidamos com problemas como analfabetismo funcional e índices baixos de desempenho em matérias como matemática e português.
No entanto, não é só o investimento em educação formal que pode mudar essa situação, a educação integral cidadã, que forma o cidadão de maneira holística, também tem muito a contribuir.
Os jovens brasileiros demonstram baixos desempenhos não só em disciplinas tradicionais, mas também em habilidades essenciais conhecidas como soft skills. O Programa Internacional de Avaliação dos Estudantes (Pisa) revelou que, aos 15 anos, os jovens brasileiros possuem pouca criatividade na resolução de problemas, frequentemente apresentando ideias óbvias e lutando para propor múltiplas soluções. No ranking geral, o Brasil ocupa a 44ª posição entre 56 países.
Além disso, a pesquisa True Quest, organizada pela OCDE, destacou que o Brasil apresenta o pior desempenho na identificação de notícias falsas, evidenciando uma baixa capacidade cognitiva.
Isso é agravado pelo fato de 85% das pessoas na América Latina consumirem notícias frequentemente através das redes sociais. Dados do relatório Digital 2024: Global Overview Report colocam o Brasil como o terceiro país que mais utiliza redes sociais. Uma baixa cognição combinada com o uso excessivo das redes sociais favorece a desinformação no debate público.
Diante deste contexto, a educação integral cidadã, que forma o cidadão não apenas em conhecimento político, mas também em valores e virtudes cívicas, tem muito a oferecer. Esse tipo de educação pode impactar positivamente a criatividade, a literacia midiática, a participação política e o engajamento comunitário ao ensinar habilidades como diálogo, resiliência, resolução de conflitos, entre outras.
Os caminhos para implementar políticas públicas nesse sentido nem sempre são claros, mas aproveitar o que já está estabelecido pode ser um bom ponto de partida. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) já inclui a educação integral, com várias competências gerais que servem como diretrizes para o ensino de habilidades e valores tais quais:
- competência geral 8: autoconhecimento e autocuidado;
- competência geral 9: empatia e cooperação; e
- competência geral 10: autonomia.
Com base nisso, é possível desenvolver experiências práticas e projetos interdisciplinares que conectem o aprendizado acadêmico com situações da vida real, preparando melhor os jovens brasileiros.
Ao adotar essas ações, o Brasil pode não apenas melhorar seus índices educacionais, mas também formar cidadãos com valores democráticos e engajados, capazes de contribuir significativamente para o fortalecimento da democracia.
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