Valores democráticos: as lições dos nossos vizinhos latino-americanos

25/02/2025

Por Jamil Assis | Diretor de Relações Institucionais do Sivis

Reproduzido da Gazeta do Povo

A democracia é um bem precioso que, quando negligenciado, pode se perder de maneira quase imperceptível. As experiências de países vizinhos que já foram democráticos e hoje sofrem com regimes autoritários mostram que a liberdade, apesar de ser um direito natural, não é um privilégio garantido, mas uma conquista que precisa ser defendida ativamente. Durante o painel “Resistindo ao Iliberalismo na América Latina”, realizado no Latin America Liberty Forum pela Atlas Network, especialistas de diferentes países compartilharam suas lições sobre como proteger nossas instituições e valores democráticos.

A experiência venezuelana, trazida por Maria Alejandra, do jornal El Tiempo, destaca uma advertência fundamental: a polarização excessiva é uma brecha perigosa para o autoritarismo. Quando a sociedade se fragmenta e se recusa ao diálogo, abre espaço para que líderes com pretensões tirânicas se aproveitem do caos e imponham suas vontades. A lição é clara: é preciso buscar pontos de convergência, focando na solução de problemas essenciais para todos os cidadãos, em vez de ampliar as diferenças e a divisão social.

Quando cedemos ao autoritarismo, mesmo que sutilmente, abrimos mão do próprio direito de escolha. Aprender com a história e com as experiências de outros países nos mostra que a liberdade não é algo garantido, mas uma conquista a ser protegida diariamente

O caso do México, apresentado por Susana Camacho, alerta sobre a necessidade de um Judiciário independente. Populistas e grupos criminosos buscam influenciar ou aparelhar o sistema de Justiça para consolidar seus interesses. A transparência e a proximidade entre a sociedade e as instituições judiciais são essenciais para impedir essa degradação. Quando os próprios juízes explicam a importância de sua função e a relevância de um Judiciário autônomo, as pessoas passam a compreender melhor a necessidade de preservar esse pilar democrático.

No Chile, Sofía Wagner, da Fundación para el Progreso, ressaltou a importância de engajar os jovens na defesa da liberdade. Torná-los protagonistas, com formação e participação ativa, foi uma estratégia eficaz para expandir o impacto de iniciativas democráticas. Em tempos em que as redes sociais e o discurso fácil têm grande influência, conquistar a atenção da juventude é fundamental para garantir a perenidade dos valores democráticos, e fazer isso sem diminuir ou amenizar a importância da liberdade é necessário.

O Instituto Sivis reforçou um ponto essencial: o diálogo. Mesmo mantendo convicções e valores firmes, é fundamental estabelecer pontes com diferentes visões de mundo. A experiência do projeto O Brasil Fala, que promove debates entre pessoas ideologicamente opostas, a partir da parceria com veículos de comunicação diversos, é um exemplo de como abrir espaço para o diálogo fortalece a credibilidade e a capacidade de influenciar positivamente o debate público. A liberdade de expressão e o respeito à diversidade de opinião são alicerces para uma sociedade que deseja resistir às tentações autoritárias.

A defesa da liberdade é a espinha dorsal da democracia. Quando cedemos ao autoritarismo, mesmo que sutilmente, abrimos mão do próprio direito de escolha. Aprender com a história e com as experiências de outros países nos mostra que a liberdade não é algo garantido, mas uma conquista a ser protegida diariamente. Para que o Brasil não repita os erros de outras nações vizinhas, é imprescindível que a sociedade esteja vigilante, promovendo o diálogo, os valores democráticos, fortalecendo suas instituições e incentivando a participação ativa dos cidadãos na construção de um futuro verdadeiramente livre e democrático.

Não podemos ser ingênuos, porém, e pensar que essa defesa de uma democracia baseada na liberdade de expressão e no diálogo franco entre quem pensa diferente, será uma tarefa fácil e sem grandes conflitos. Pelo contrário, essa solução traz à tona que a democracia é o regime do dissenso. Mas também é o meio de termos a possibilidade de trocar de governantes sem violência generalizada. Promover os valores – e as virtudes – necessários para a democracia é crucial, e as lições de nossos vizinhos são matéria-prima importante para os próximos anos no Brasil.

O painel finalizou com uma mensagem de todos os painelistas que vale a pena repetir: que dentre as virtudes cívicas e democráticas mais cruciais está a esperança. Não o otimismo simplista, que paralisa ou acomoda, mas sim a esperança como prática, como a defesa de que temos que fazer o nosso melhor, esperar e apoiar o melhor dos outros e, assim, esperar o melhor dos resultados. Nunca de maneira passiva, mas sempre que possível, com protagonismo naquilo que nos é possível.

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